segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Utopia - por Carol Vargas






Prefácio : 

As manhãs de novembro nunca foram tão frias. Algo dizia à Abgail Storm que sua vida mudaria drasticamente.
Ou seria sua imaginação ? Bem , poderia ser. Já que sua imaginação era um de seus pontos mais fortes.
Abgail Storm , 14 anos. Sua estrutura corporal era baixa , de forma que a tornava parecida com um elfo. Seus olhos eram azulados como os mares reluzentes do Caribe. Sua pele , era branca como a neve que caía nessa época do ano , com pequenas sardas. E seus cabelos , eram ruivos bem cuidados.
Naquela manhã , Abgail estava a caminho de sua nova casa , em Londres na famosa Inglaterra. Iria morar na casa de sua tia um tanto “adorável” (sim , estou sendo irônica.) Tia Judith , tinha uma mansão antiga no interior da cidade. Era portadora de grande fortuna, e como podemos imaginar , era insuportavelmente arrogante.
Mas , antes de tudo , deixem-me explicar-lhes como nossa personagem chegara até aqui.

Capítulo Um: Mudanças.



01 de novembro, 1994. 12:30am , Califórnia. 
Abgail e seu irmão mais novo Carl , retornavam da escola. Pelo caminho , Abgail e Carl brincavam de saltar sobre a neve.
Sim , nevava muito durante aquela estação do ano. O famoso inverno estava predominando em San Diego. 
Abgail sempre fora muito atenciosa com seu irmão mais novo. Ambos sempre tiveram uma ligação fora do comum. 
***
Bem , podíamos confundir Carl com um esquimó. O garoto estava amarrotado de roupas , de modo que se tornava difícil fazer movimentos como pular. 
Já Abgail , estava mais leve. Usando apenas seu casaco de pele preto , uma calça jeans básica cuja a bainha estava toda molhada devido a neve , um all-star surrado e sua boina de costume vermelha.
***
Estavam quase dobrando a esquina de casa , quando Carl empacou no meio do caminho e começou a resmungar pois estava exausto.
O caminho de casa para a escola era comprido , e os eles tinham de cruzar um longo trajeto até sua casa.
-Abby , estou cansado. Pigarreou o menino.
Abgail , já com pena do pequeno irmão , o olhou com ternura e disse :
-Venha cá , vamos dar um jeito nisso. 
E dizendo isso , agarrou o pequeno Carl e o colocou em suas costas. 
E assim seguiram até chegarem em casa.
***
Chegando em casa , se depararam com o Sr. Storm sentado em sua poltrona lendo um jornal local , o que não era muito comum.
John Storm trabalhava todos os dias , e só chegava em casa quando as crianças já estavam adormecidas. Não era um pai muito presente , e se esforçava muito para ser. Amava seus filhos , mais que tudo neste mundo e se dedicava ao máximo para dar a eles o melhor possível. 
Naquele dia , John estava de folga. Sua empresa estava com problemas técnicos e dispensara todos os funcionários. 
John quando avistou as crianças deu um árduo sorriso e largou seu jornal para ir dar um abraço caloroso a elas. 
-Papai , o que aconteceu ?. Perguntou Abgail.
-Bom , digamos que agora papai terá mais tempo para vocês. Vamos nos divertir muito.

As crianças olharam para John entusiasmadas.
Á caminho da sala , estava a Sra. Storm. 
Louise Storm , uma bela moça de 30 anos. Abgail era muito parecida com a mãe , herdara quase tudo dela , exceto os olhos , que foram legado do pai. 
A mulher era doce , meiga e conquistava todos ao seu redor. Uma mãe exemplar , dava carinho às crianças , as educava , e estava sempre ali presente.
-Vejo que começaram a diversão sem mim. Disse ela com um sorriso.
-Mamãe !. Exclamaram as crianças em uníssono , correndo para abraçá-la.
-Muito bem , larguem suas mochilas crianças. Hoje teremos algo especial para o jantar.
As crianças entusiasmadas subiram as escadas correndo.
-Louise querida , o que você preparou?. Perguntou John.
-Qual é o prato preferido seu de Abby e de Carl?.
-Não me diga que...
-Sim , eu fiz pizzas.
O marido a olhou com tanta felicidade e a abraçou.
-Ah Louise , você é a melhor.
A esposa deu uma risadinha , já sabendo que John era conquistável pela comida. 
Não que ele seja gordo , não mesmo. John era mais magricela do que qualquer outro homem. Mas comia mais que um exército.
***
Quando finalmente chegara a hora do jantar , todos se reuniram na sala na mesa de madeira , em frente a uma quente e confortável lareira.
Louise pusera as pizzas arrecem tiradas do forno na mesa. 
Todos se serviram e a refeição começou.
Enquanto no lado de dentro da casa a família Storm apreciava seu delicioso jantar, no lado de fora alguns “foras da lei” se reuniam em uma viela perto da casa dos Storm.
Havia recentemente acontecido muitos assaltos , mortes na rua , e tudo era culpa de uma gangue de marginais conhecida como “Os Silenciosos” pois quando cometiam seus crimes , não deixavam pistas , não deixavam rastros , e eram cautelosamente organizados.
O chefe , apelidado de Dunga por ser baixinho, estava ordenando aos seus capangas que organizassem um novo crime.
-Há uma família bem perto daqui. Tivemos observado eles e sua rotina durante dois meses. Relatórios disseram que a família não dispõe de muito dinheiro , mas tem o bastante para nós todos. Disse Dunga aos outros.
-Então , está dizendo para irmos lá , assassinarmos todos e pegarmos a fortuna?. Perguntou um deles , chamado Chuck.
-Não só assassinar . Precisamos de uma garantia de que ninguém saia vivo. Não queremos testemunhas. Somos sigilosos. Quero que peguem o que puderem , e incendeiem a residência.
-Agora?. Perguntou Chuck preguiçoso.
-Sim meu caro subordinado. Agora. Se preparem.
***
Na casa da família Storm , o jantar já havia acabado. 
Abby e Carl brincavam na sala , enquanto o Sr. Storm terminava de ler seu jornal e a Sra. Storm lavava as louças sujas no jantar.
Tudo parecia perfeitamente bem , mas estava prestes a acabar.

Os subordinados de Duende estavam à espreita. Se preparando para seu golpe.
Abby começou a sentir algo estranho , um pequeno aperto em seu peito.
De repente , ouvira batidas na porta.
O Sr. Storm estranhou , não haviam de receber visitas hoje.
-Carl , meu filho , por favor atenda a porta. Pediu o homem.
Carl largou seu carrinho de brinquedo e se dirigiu em direção a porta.
A sensação de Abgail de que seu peito estava sendo esmagado se intensificara e de repente , sem ela conseguir ter controle de si mesma berrou :
-Carl não abra !. 
Tarde demais.
O garoto abrira a porta e fora surpreendido com um tiro no crânio. 
Dois homens mascarados adentraram a residência.
O Sr. Storm rapidamente correu até os homens , sem recurso algum para atacá-los. Estava envolto de fúria. Queria matá-los.
Foi inútil , acabara tendo o mesmo destino do filho.
Abgail continuava ali , sentada apenas olhando a cena. Estava em choque. Não sabia o que fazer.
Lágrimas corriam pelo seu rosto , mas sua expressão continuava como pedra. Seus olhos arregalados e boca aberta , como se quisesse soltar um grito e não conseguisse.
Da cozinha , a Sra. Storm veio correndo gritando o nome do marido em pânico. E logo fora silenciada.
-E o que fazemos com essa ?. Disse Chuck apontado para Abgail.
-Ela irá morrer com o choque e se não for por isso , morrerá com o incêndio. Disse o outro.
Abgail continuou ali , inexpressiva. Não conseguia se mexer , embora sua vontade fosse de levantar e fazer o que aqueles porcos fizeram com sua família. Mas não conseguia. Não conseguia se mexer.
Começou a lembrar todos os momentos bons que teve com sua família , olhando os cadáveres deles. 
Por que a vida seria tão injusta a ponto de fazer isto com ela? O que teria ela feito de errado ? 
Logo ela , que sempre se esforçara para ser uma boa garota.
Por quê?.
***
Enquanto Abgail ficava ali , atônita, os criminosos pegavam tudo o que podiam e colocavam em grandes mochilas.
Quando acabaram , derramaram Querosene por toda a casa , e por fim , a incendiaram.
***
Fogo , luz , uma única lembrança.
Abgail quando conseguira se recuperar do choque , se dera conta do que estava acontecendo.
Não poderia ficar ali parada e morrer , embora fosse esta a sua vontade. Mas seus pais não iriam se orgulhar disso e muito menos Carl.
Tinha que viver , viver por eles.
A casa desmoronava , e as chamas se espalhavam por todo o canto. 
Abgail se levantou , cambaleando. Cambaleou em meio de escombros , e finalmente conseguiu encontrar a saída. 
A primeira coisa que fizera fora pedir socorro. 
Estava ofegante , sufocada pela fumaça , e ferida pelos escombros que caíram nela.
Gritara o mais alto de pudera :
-SOCORRO!. Mas sua voz estava falhando.
Fizera mais um esforço.
-SOCO...RRO.
E sua última visão fora um borrão.
*** 
Abgail acordou em uma ambulância , estava deitada em uma maca.
Quando abrira os olhos , contemplou o teto branco , que lembrava muito o de seu quarto e pensara :
“Foi um sonho ?”. 
Mas olhando ao redor , vira aonde estava. E teve certeza de que tudo era real.
Começou a se debater na maca , gritando :
-Quero ver meus pais ! Carl , aonde ele está? !.
Uma pessoa , que estava ao lado direito da maca , a olhou com um olhar triste e disse :
-Abby querida , vai ficar tudo bem. Você só precisa se acalmar.
Abgail olhou naquela direção , e rapidamente reconheceu aquela pessoa. 
Era sua vizinha , a Sra. States. Uma velhinha muito querida pela sua mãe.
-Sra. States , eu...
-Querida , fique quieta , não se esforce. Vai ficar tudo bem , mas por hora descanse.
Abgail queria mesmo conversar com a Sra. States , mas se sentia mal ainda então decidiu obedecê-la.
Dormiu durante um bom tempo , e quando acordou estava em uma maca em um quarto de hospital.
Ficou ali , contemplando o teto. Tendo lembranças do ocorrido. Chorando, e por fim , contemplando o teto outra vez.
Estava exausta , triste , confusa , e queria ir para casa. Mas que casa? A sua fora destruída ! Pensou ela.
***
Abgail passara mais dois dias no hospital e então fora liberada.
A comunicaram que sua guarda seria passada para sua tia , Judith Stratford. E que um agente iria se encarregar de levá-la até Londres , na Inglaterra. Aonde seria sua nova casa.
Abby conhecia muito bem sua tia Judith , e sabia que a convivência entre as duas não seria nada boa. 
Sua tia era desprezível , e sua vida estava prestes a se tornar um inferno.
Ela sentia isso. 



Capítulo dois :O ponto.


Londres, Inglaterra. 08:00am.


Abgail e o agente responsável por ela , haviam acabado de desembarcar de seu vôo. O aeroporto estava um tanto lotado , Abby não sabia o por que. E não tinha coragem de perguntar ao seu responsável. Ele era um cara estranho.


Agente Philip era um homem daqueles que cumprem seus trabalhos a todo o custo. Um homem trabalhador , digamos assim. Sério , centrado e carrancudo. Estes três adjetivos o definiam perfeitamente.
Usava um terno preto e óculos escuros, o que o fazia parecer um agente da MIB (embora naquela época isto era bem comum) E sua grande e lustrosa careca brilhava aos raios solares. 

Abby estava um tanto amedrontada , não conversara com seu agente de modo aprofundado. As únicas palavras que ele proferira a ela foram : 

- Você está bem?.
E ela , como sempre , respondera que sim.
Fora isso , nosso carrancudo agente não havia conversado gentilmente com nossa personagem.

E Abby gostava mesmo de uma boa conversa.
Até porque , são tempos difíceis e para quem pensa que nossa heroína esquecera do ocorrido , está equivocado. Abby precisava mesmo se distrair , ou sua mente iria acabar a matando.

Abgail dormira algumas vezes durante o vôo e sonhara com o que tinha acontecido em sua antiga casa.
Todas aquelas cenas de terror passavam como flashback em sua cabeça durante seu sono. Nossa heroína não conseguia mais dormir em paz.

***
Nossos personagens pegaram um táxi e se dirigiram até a mansão de Judith.

Judith Stratford , 50 anos de idade. Baixinha e rechonchuda. Poderíamos a confundir com um dos gêmeos tweedle de Alice no País das Maravilhas , ainda mais com seus vestidos escandalosos e seus chapeis bizarros.
Naquele dia , Judith estava preparando a mansão para receber Abgail. Bem , era o que parecia.

Mas como sabemos meus amigos , nem tudo é o que parece ser. 
Na realidade , Judith prepara a casa para receber suas amigas afortunadas , para realizarem o chá da manhã. Aonde jogavam conversa fora , e falavam coisas estúpidas de gente rica e esnobe.

Enquando tia Judith dava os últimos retoques em sua sala de estar, o táxi cruzava a esquina da rua.

O motorista Valdoberto estacionara o carro bem em frente a mansão. 
As malas de Abby eram poucas , continha dentro de uma pequena mochila apenas as coisas que haviam sobrado do incêndio. 
Philip tocou a campainha que se encontrava ao lado do portão enorme de ferro.

Enquanto esperavam o portão ser aberto , Abgail observava sua nova casa.
A mansão Stratford era maravilhosamente linda , grande. Parecia uma daquelas mansões antigas , e Abby admirava muito coisas antigas.

Podia até imaginar aqueles quadros enormes de duques e rainhas nas paredes , as escadarias e várias portas secretas para explorar. Isso iria a ajudar , ela precisava de uma distração.

O portão se abrira e Philip e Abby adentraram a residência.
Duas batidas na porta foram o suficiente para a velha rechonchuda atender.

Abrira a porta com entusiasmo , sua expressão era de felicidade.
Porém , essa expressão se desfez quando vira quem realmente era.

-Ah , é você. Disse a velha com desdém.

Abgail sentiu vontade de soltar uma boa resposta , porém , seus bons modos ainda não permitiam este tipo de vocabulário. Então a garota apenas a olhou como um cachorro pedindo comida.

-Senhora Stratford , estou aqui representando o Juízado de Menores. A Senhora poderia assinar esta papelada para mim?. Perguntou Philip , o agente.

Judith os fitou como se fossem dois vermes insolentes , mas tinha que os permitir ao menos adentrar na sua residência.
-Sim , entre. Disse ela com frieza.

Ambos entraram e se sentaram em um grande sofá fofo e confortável. 
Dentro da mansão era tão confortável , aconchegante e quentinho , que fazia Abgail ter vontade de dormir. E o sofá com capa de veludo não ajudava nada em evitar o sono. Ela começara a piscar pesado.

Enquanto Abby quase dormia , Judith assinava uma pequena papelada.

-Muito bem senhora , irei me retirar agora. Deixaremos Abgail Storm durante uma semana aqui com a senhora , e após este prazo , eu voltarei para verificar se ela está se adaptando bem.

Philip se levantou e apertou a mão de Judith cordialmente. 

A velha o acompanhou até a porta , e finalmente ele fora embora.
Agora estavam ali , somente Abby e sua rechonchuda tia.
A garota não conseguiu mais segurar seu sono , e mesmo não querendo , adormecera.

Poucos minutos depois , foi acordada com um peteleco na testa.
-Acorde pirralha. Não é hora para dormir. 

Abby esfregou seus olhos e pode enxergar claramente que tia Judith começara a infernizar.

Abby piscou pesado outra vez , e quase adormeceu.
Mas a velha a pegou pelos braços e a levantou a força.
-Se você quiser viver em minha mansão , vai viver sob minhas regras mocinha. 

Abgail a fuzilou com os olhos.

Tia Judith era extremamente radical , e nunca gostou muito de seus sobrinhos , então isto só ajudava mais a cultivar sua cólera.

-Suba as escadas , e entre na primeira porta a direita. Largue suas tralhas lá , será seu quarto. Daqui a trinta minutos se vista adequadamente e desça para a sala de estar , teremos visitas. Falou a velha se dirigindo para outro cômodo.

Abgail , sem ter outra opção a obedeceu como um robô quando recebe comandos.

Subiu as escadas de mármore em forma de espiral , e entrou em uma porta , que tinha desenhos estranhos.
Sim , seu novo quarto não era nada de especial.
Apenas uma cama de solteiro , e uma janela que tinha vista para a rua.
Abby se atirou em sua cama e logo descobriu que ela era dura feito pedra. Mas tudo bem , ela teria de se acostumar com aquilo mesmo.
Passara alguns minutos ali , observando o teto de madeira a lâmpada branca.

Sem pensar em nada , nada mais do que o mesmo de sempre.
De repente , começou a sentir uma sensação estranha. Sua pele começara a se arrepiar e calafrios a consumiam. 
Será que estava com febre?. 
A garota pôs suas mãos sobre a cabeça para verificar , mas estava perfeitamente normal.
E então , aconteceu a coisa mais esquisita de todas.
O teto começou a girar , tudo em sua volta girava. 
“O que é isso?”. 
O que estava acontecendo?
Sua mente começava a ficar confusa , girava , girava. Sua alma gritava , chorava , queria fugir.
E então , sem poder evitar a garota soltou um berro.
E tudo parou.
Simplesmente parou.
O mundo parou. E ela começara a ter flashbacks estranhos , sobre memórias que nem ela mesmo lembrava de ter. 
Neve. Inverno . E de repente Primavera. Um mar claro e resplandecente. 
Foi o que vira. E então tudo isso mudou.
Uma criatura estranha vinha em sua direção , mas o que seria aquilo?.
Sentia vontade de chorar , ou até estaria chorando sem mesmo perceber.
A criatura tinha corpo de homem , mas as suas pernas eram de cavalo. Um híbrido.
Abgail fechou os olhos e rezou para que tudo aquilo fosse somente um sonho. 
E quando abriu-os novamente , parou de ter aquelas visões estranhas.
-ABGAIL !. Ouviu um urro vindo da sala.
Tivera certeza de que estava terrivelmente atrasada para receber as visitas. 
Abby levantou-se correndo e pôs a primeira roupa que encontrou em sua mochila. E desceu.


Sim meus amigos , posso lhes afirmar que agora , neste momento , chegamos ao ponto crucial da nossa história. Aonde tudo começa realmente a acontecer.


Capítulo 3 : Gabe West.


Abgail poderia ser torturada em milhões de maneiras diferentes , mas nada seria pior do que assistir aquelas velhas ricas rindo como galinhas ciscando milho. 
Mas vamos voltar ao princípio. Vamos continuar de onde paramos.
***
Abgail descia a escada com seu vestido bordô todo amassado e seus cabelos parecendo um ninho de ratos. Mas claro nossa heroína achou manter a classe , então decidiu descer com um sorriso radiante. 
Quem a visse poderia jurar que sua vida era uma maravilha e que ela era uma menina de classe e etiqueta. Uma menina nobre , assim como sua tia. 
Por mais que por fora Abby estivesse radiante , por dentro sua alma gritava por socorro.
-Ah Abgail minha querida , você finalmente desceu !. Falou a tia com cinismo. 
“Judith conseguia ser tão cínica , tão... Argh !” Pensou Abby.
“- Bom , mas se quero me sair bem tenho que entrar em seu jogo”. Disse ela a si mesma.
- Titia me desculpe. Estava terminando de passar as roupas que me pedira. Ah , á propósito a senhora está muito elegante hoje. E dizendo isso , Abgail fingiu um sorriso.
A expressão da tia mudou de radiante para desconfiada. Ela percebera o que a “desprezível” sobrinha estava fazendo. Se havia uma coisa que tinha certeza , era que Abgail era muito inteligente e rápida. E aquilo fez seu sangue ferver. 
-Muito bem , sente-se. Disse a tia apontando para uma poltrona a sua direita.
E Abgail ficara ali , em silêncio , assistindo e ouvindo a reunião das velhas urubus. 
***
E é aqui que chegamos.
Abby não aguentava mais ouvir as vozes caquéticas daquelas velhas. Queria soltar um palavrão bem alto a todas elas. Mas por hora era uma dama e damas não faziam isto.
Seu sangue fervia.
Achava ela mesmo que estava se tornando uma jovem um tanto velha , pois sua paciência ultimamente estava muito sensível a qualquer coisa. 
Não a tinha mais. Paciência era uma dádiva distante dela agora.

Eram finalmente 13:30hrs quando o grupo de caquéticas urubus fora embora em suas carruagens encantadas. 
E Abgail subiu para o segundo andar. 
Decidiu explorar um pouco aquela mansão enorme. Talvez tivesse coisas interessantes ali.
Abriu uma , duas , três portas e através delas se revelavam somente cômodos vazios. Se perguntava ela , porque a tia guardava tantos quartos vazios , sem mobília. 
Chegou ao fundo do corredor , aonde não havia luzes e o sol não batia. Era completamente escuro.
Ficou se perguntando também , porque a tia não mandara fazer janelas para clarear o lugar.
Não conseguia distinguir o que era madeira , e não conseguia encontrar o fim do corredor. Era como se não houvesse o fim.
Quando finalmente achara , bateu com a testa na parede. 
-Ai ! Cara isso doeu !. Resmungou a menina.
Abgail conseguiu ver de relance um pequeno brilho na parede. Como se houvesse algo , como uma moeda ou chave reluzindo ali. Mas como seria possível se nem havia sol para fazê-lo reluzir?.
Se abaixou para olhar melhor e então notou que aquilo era uma maçaneta. 
-Uma... maçaneta ?. Sussurrou a si mesma.
Subiu o olhar e então viu que junto a parede estava uma pequena porta , do tamanho de um bebê cheia de desenhos esquisitos. Porque aquilo estava ali?. O que era aquilo?.
Passou os dedos entre as formas estranhas na porta , e continuou com milhões de dúvidas em sua cabeça. 
“-Bom , acho melhor não mexer muito. Vá que seja coisa daquela velha”. Falou a si mesma.
Deu meia-volta e cruzou o corredor novamente para o caminho oposto e desceu as escadas.
Sem avisar a tia , saiu porta a fora. Pulou os portões com suas habilidades de menina travessa e começou a caminhar livremente pelas ruas.
Ah , liberdade era o que mais a menina queria.
Queria pensar um pouco sobre tudo o que havia acontecido. Queria ter um tempo para pensar nos pais e no irmão. Abby queria , mais que tudo , que seus 18 anos chegassem. 
Passara somente um único dia com a tia e já descobrira o verdadeiro inferno. Imagina o que seriam quatro anos a mais com esta velha a infernizando.

A neve já estava derretendo um pouco. Porém , os asfaltos e calçadas continuavam cobertos por ela. 
Caminhar na neve era tão bom e lhe lembrava muito seu irmãozinho.
Carl ... 
“Não Abby” Disse a si mesma “Carl está em um lugar melhor agora. Não chore”.
Conseguira conter suas lágrimas. E começou a caminhar e concentrar seus pensamentos em coisas bonitas.
A neve era tão bonita. Por mais fria que fosse , era linda , delicada , era tão boa. Assim como a chuva , o sol , o céu e as nuvens. 
Tudo o que envolvia a natureza para Abgail era lindo. Ela sempre fora uma amante de natureza.
Ah , amava quando as árvores eram abraçadas pelo sol. Quando o céu estava em harmonia com as nuvens. Quando a chuva caía sobre o chão. Quando a neve delicadamente tocava seu rosto.
Amava tu...
-AI ! CARA O QUE FOI ISSO ?!. De repente um grito a despertara de seus pensamentos.
Olhou para frente e se deparou com um menino meio alto, de cabelos pretos meio bagunçados e olhos castanhos. Usava vestes antigas , comuns naquela época. Uma camisa branca , calças bege , suspensório e um sapato preto engraxado.
-Ah , me desculpe.
-Não , não lhe desculpo. E preste mais atenção da próxima vez garota.
Abby sentiu antipatia na voz do rapaz , e rapidamente seu sangue ferveu. Aquele jeito de falar lembrara sua tia , e aí sim ela descontou sua raiva.
- Olha aqui seu bastardo eu já lhe pedi desculpas. Não pense que podes falar comigo desta maneira. Falou ela fingindo ser superior.
-Ah me desculpe vossa grandeza , mas posso saber quem você é?. Falou o rapaz em tom de deboche.
-Me chamo Abgail Stratford , sou filha da senhora que mora na mansão da esquina. Uma senhora de grande referência , amiga de condes, condessas e lordes. Tentou parecer superior outra vez.
“Que mentira mais horrível Abgail”. Disse ela a si mesma.
O rapaz a olhou , analisando-a por alguns segundos. Então tornou a falar :
-Me chamo Gabe West. Sou filho de Lorde West , ultimo sucessor de meu pai ao trono , e futuramente o braço direito da rainha.
-Interessante. Falou Abby tentando parecer interessada no assunto.
Na verdade , estava odiando aquela conversa com aquele rapazinho com pinta de lorde. Ele era um porre.
-Podemos ter um laço de amizade. Falou ele.
Do jeito que proferira as palavras , era evidente que nunca havia feito amigos antes. Não era de se surpreender.
-Não creio que isso seja possível. Falou a garota.
-Por qual razão?. Perguntou ele estupefato.
-Não gosto de você. Respondeu rispidamente Abby.
-Eu também não gosto de você. Gabe tentou aparentar convincente.
-Ótimo. Falou Abby com indiferença.
- Ótimo. Falou Gabe tentando parecer indiferente.
Abgail virou-se de costas e dera alguns passos a frente , sem se importar com o que acontecera ali atrás. Não gostara de fato do rapaz.
-Ei ! Espera !. Gritou o garoto.
Abgail revirou os olhos e virou-se para trás.
- O que você quer?. Perguntou ríspida. 
-Vamos ser amigos , qual é. 
-Desde que não profira mais nenhuma palavra a mim , ok. Falou ela.
-Então somos amigos?. Perguntou o garoto entusiasmado.
-Sim. Respondeu ela fria.
Gabe a seguiu durante o seu percurso de volta. Sua casa ficava na próxima esquina depois da mansão de Judith.
-Ah , a propósito eu tenho 14 anos. E você?. Perguntou o menino.
-Tenho a mesma idade.
-Sério? Achei que você fosse mais nova. Disse o rapaz surpreso.
-Não brinque comigo. Eu que achei que você fosse mais novo. Suas atitudes correspondem a um comportamento de uma criança de 10 anos.

Abgail e Gabe chegaram a frente dos portões da mansão Stratford.
-Adeus bastardo. Falou Abgail sem olhar para trás e já subindo o portão para pular.
-Adeus , Abby. Falou o garoto com um sorriso largo no rosto.

Abgail correu para dentro de casa , e subiu as escadas trotando como um cavalo. De modo que se tornou inevitável perceber que ela havia saído.
-ABGAIL !. Gritou a monstra.
“Ótimo , aí vem osso” Pensou a garota.
 


Capítulo Quatro :O Lobo Branco.

***
Abgail já estava cansada de ser punida. 
Bom , lembramos que no capítulo anterior nossa heroína saiu para perambular pela rua sem a permissão de sua terrível tia. E sim , isso teve sérias consequências. 
Seu castigo fora esfregar o chão de toda a mansão , até que se encontrasse lustroso e brilhante. Sem nada deixar nenhuma sujeirinha.
A mansão era enorme. Cada cantinho havia quilos e quilos de poeira , o piso de mármore parecia a muito não limpo. A tia era portadora de grande fortuna , então por que não contratava uma faxineira para limpar aquele chão ? !.
A menina esfregava , esfregava e o chão parecia estar sempre sujo. Aquilo estava lhe dando uma cólera incomum.
Seus joelhos já estavam doídos de tanto ficar ajoelhada no chão.
Quando aquilo iria acabar?.
A resposta é : Isso está apenas começando.
***
TRÊS MESES SE PASSARAM.
Quando tudo começou realmente a se estabilizar , Abby começara a freqüentar uma escola de ensino fundamental.
As investigações sobre o caso de seus pais estavam indo muito mal. Não tinham certeza de quem era o culpado e nem mesmo Abgail conseguia falar algo para ajudar a polícia a resolver o caso.
Certa vez , no dia 04 de janeiro , tentou dar um depoimento descrevendo os homens. Suas vozes , o jeito de agirem e etc. 
Porém , quando começara a falar tudo parou e ela tornou a ter flashbacks do momento. A menina se desesperou imediatamente. E acabou tendo uma convulsão.
Não se sabe de onde a convulsão surgira. 
E desde então , exigiram que Abgail fosse a um psicólogo para se livrar do possível “trauma”.

A menina freqüentava a mesma escola de seu amigo Gabe West.
Ah , aliás , os dois se tornaram grandes amigos durante este período que se passou. Melhores amigos podemos dizer assim.
Gabe mudara bastante desde que seu pai perdeu toda sua fortuna em 21 de janeiro , numa estúpida aposta de bar. 
Sim , o pai do menino era alcoólatra e fugia todas as noites para bares de esquinas e gastava todo o seu dinheiro com bebidas. 
Porém , o pai de Gabe era cuidadoso. Não deixava ninguém o ver. Era bem camuflado.
Se bem que , o homem estava certo. O que diriam se vissem um Lorde bebendo junto de burgueses e camponeses?.

Mas , continuando as atualizações...
Abgail tornara a ter aquelas visões esquisitas de lembranças que nem ela mesmo sabia que tinha.
E certa noite , sonhara com um lobo branco.
Mas não deu muita bola para isso.
Enquanto as datas comemorativas , bem , com tia Judith no comando podemos ter certeza de que não houvera Natal , muito menos Ano Novo. Mas Abby já estava conformada.
***
05 de Abril de 1995, 12:30h. 
Abgail e Gabe retornavam da North Side School. 
Falavam sobre seus pareceres escolares e de como a professora de matemática era chata e rechonchuda. 
Gabe achou melhor não comentar , mas Abby estava muito bonita naquele dia.
Seus cabelos ruivos estavam presos em uma longa trança com um laço na ponta. Seu rosto ficava mais destacado quando ela prendia seu cabelo e Gabe gostava disso. Gostava de poder ver o rosto de Abby. O rosto que naquele dia de primavera estava corado devido ao sol.
A menina usava um vestido bege com pequenas flores rosa que a deixava realmente muito delicada e meiga.
Gabe começara a ficar constrangido com seus próprios pensamentos. 
Enquanto Abby tagarelava algo sobre a Senhorita Martinez (professora de matemática).
-Gabe , ei !. Você está dormindo ou o quê?. Perguntou Abby.
Gabe corou imediatamente.
-Eu...hãm... Acho também que ela deveria parar de usar esses vestidos cor carmim. Falou ele tentando fingir que estava prestando atenção no assunto.
-Você é um péssimo mentiroso Gabe West. E o vestido dela é salmão seu bastardo !. Falou Abby dando um soquinho no braço direito de Gabe.
Bom , digamos que “bastardo” era uma forma afetuosa de Abby se dirigir a Gabe.

Quando os jovens chegaram a frente da mansão de tia Judith se despediram um do outro como de costume. 
Abby deu um soquinho no braço esquerdo de Gabe e disse :
-Até amanhã bastardo. 
E começou a escalar o portão para pulá-lo. Sim , ela não pedia para a tia abri-lo. Para Abby , era mais radical pular o portão do que simplesmente pedir para ele ser aberto.
Gabe como sempre , não proferira nenhuma palavra e ficou olhando a menina desaparecer entre o jardim.
Assim que Abby desapareceu , Gabe tornou a caminhar.
Já que não morava mais em uma mansão , devido a grande queda de dinheiro em sua família , Gabe teve de se mudar para um puxadinho a uma quadra de sua antiga casa. Mas não via problemas nisso. O menino já havia se acostumado.
***
Como sempre , Abby chegou em casa a baixo de mal tempo.
-ABGAIL SUA PORCA !. Guinchou a tia.
-Sim?. Falou Abby calmamente.
-Limpe o corredor de cima hoje !. Quero tudo impecável ! Teremos hóspedes !. Falou Judith aflita.
Sem mais questionar , Abgail largou seus materiais escolares e pegou o esfregão e seus outros amigos de costume.
Demorou bastante para limpar todos os quartos do corredor acima. Sim , era aquele corredor aonde a menina encontrara a porta misteriosa e aonde era seu quarto simplório.
Abgail somente teve pausa para beber água e comer um prato de feijão. E então voltara a fazer seu serviço. 
Lustrou móveis , removeu poeira do chão , esfregou tudo com o máximo de força possível , fez tudo o que poderia ser feito. E eu garanto , nenhuma serviçal ou empregada faria melhor.
Quando finalmente terminou a tia gritou para que fosse tomar um banho e se arrumar , pois o tal hóspede estava para chegar.
Se arrumou o máximo que pôde. Penteou seus sedosos cabelos ruivos para trás e colocou um laço nele. Abgail cuidava muito de seu cabelo.
Usava um vestido branco , parecido com uma camisola.
Quando finalmente pronta , descera para a sala de estar e se sentou no sofá junto de Judith para esperar o tão estimado hóspede.

Não demorou muito tempo para que as batidas na porta fossem ouvidas. 
Judith caminhou e abriu a porta cordialmente para o hóspede.
-É um prazer receber o senhor em minha humilde mansão , Sr. Gilbert. E dizendo isso , a mulher apertou a mão do rapaz.
Sim , era um rapaz. Não muito velho nem muito jovem.
Deveria ter em torno de 29 anos ou 30. Era bonito , elegante e usava um óculos de meia-lua. Carregava consigo uma pequena mala e dois livros em suas mãos.
-Sr. Gilbert , esta é minha sobrinha Abgail Storm. Falou a tia forçando um sorriso para menina.
-Olá menina. Me chamo Hans Gilbert. Falou o homem gentilmente estendendo a mão para um cumprimento.
Abgail sentiu imediatamente uma simpatia pelo rapaz.
-O senhor gosta de ler?. Perguntou a menina.
A tia ligeiramente se apitou.
- Ora Abgail , pare de fazer perguntas como essas. Essas crianças...
-Não Judith , deixe a menina. Falou docemente o rapaz.
Ele se inclinou para poder ver melhor o rosto de Abgail enquanto a tia murmurava algumas palavras em protesto.
-Sim minha querida, eu sou filósofo. Sua tia me recebeu aqui para mim poder estudar com um velho filósofo que mora aqui na área. Estou pagando uma grande quantia para isso. Ele olhou para a garota acima de seus óclinhos meia-lua. – Você me parece bem inteligente. Vamos , me diga Abgail , quantos livros já leu?. 
-Somente um , o nome era As três árvores. Falou a menina se sentindo envergonhada.
O homem era um filósofo. Já lera milhares de livros e ela somente leu um sobre três árvores amigas do bosque encantado.
-Ah sim , uma ótima fábula devo admitir.
A tia rapidamente resolveu interromper o assunto.
-Abgail, minha querida vá para o seu quarto realizar os deveres de casa. E fuzilou a menina com o olhar.
Abgail obedeceu , como sempre.

Subiu e quando entrou em seu quarto se atirou em sua cama dura. A queda fez suas costas doerem e muito.
Logo , adormeceu.
Em alguns instantes depois , acordou.
Não sabia o porque e nem como mas havia acordado atirada no corredor escuro.
A pequena porta agora exibia uma luz fora do comum. Era impossível não a vê-la.
Abgail se dirigiu lentamente até a porta. Com medo de que ela explodisse ou até mesmo pegasse fogo.
Mas nada disso aconteceu.
Quando finalmente chegou até a porta , viu a que a luz vinha de dentro da porta. 
Tocou novamente os detalhes com seus dedos.
E então , em um baque a porta se abriu e engoliu a menina como se fosse uma planta carnívora.
Abgail caiu em um chão duro, gelado , e molhado.
Se levantou lentamente , pois estava ferida pela queda e assustada com tudo o que havia acontecido.
Quando finalmente conseguira se levantar , olhou em volta.
E então , gritou.
O que ela viu , ninguém nunca poderia imaginar que poderia existir por trás de uma porta.
Um bosque coberto de neve se encontrava ali. 
Como era possível um bosque existir dentro de uma minúscula porta?. O que estava acontecendo? Estava ficando louca? 
- Não ! EU NÃO SOU LOUCA !. Gritou a menina.
-É óbvio que você não é louca minha querida. Falou uma voz calma.
Abgail olhou em volta mas não havia ninguém. 
-Estou bem atrás de você , Abgail Storm. Falou novamente a voz.
Abgail se virou lentamente temendo o que fosse encontrar atrás de si.
E então o que encontrou a assustou ainda mais. 
Era o lobo , o lobo branco de seu sonho a um mês atrás.
-Temos muito o que conversar , minha jovem. 
E para piorar , o lobo falava.
-Q-quem... o-o que ... Quem é você?. Gaguejou Abgail.
-Não se assuste minha querida , não farei nenhum mal a você. Me chamo Palacius e serei seu guia aqui , neste mundo.
-Neste...mundo?.
-Bem vinda a terra desconhecida. Uma terra tida como mistério para todos. Este mundo só aparece para os pertencentes dele. Se Terra desconhecida apareceu para você , é porque seu trabalho é grande aqui minha jovem. Sua jornada apenas começou

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